domingo, 1 de junho de 2014

Os benefícios do parto normal para o bebê





Especialistas destacam as vantagens para a saúde da criança que nasce naturalmente
Em 2012, 37,4% dos partos realizados no Brasil pela rede pública foram cesáreas. A porcentagem pula para 82% no primeiro semestre do mesmo ano, se forem considerados apenas os nascimentos na rede privada. Apesar de esses dados estarem muito acima da taxa recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 10 a 15%, é inegável a preferência das mulheres e médicos brasileiros pela cesariana eletiva.

Existem muitos motivos que levam a essa situação, mas é importante destacar que o parto normal apresenta alguns benefícios expressivos em relação à cesárea, não só para a mãe, como também para o bebê. Veja abaixo os principais.


1. Tempo certo

“O primeiro ponto é o bebê escolher o dia em que irá nascer” diz a Dra. Rita Sanchez, coordenadora materno-infantil do Hospital Israelita Albert Einstein. “Ou seja, está pronto, maduro”. A importância de respeitar o tempo do bebê se deve principalmente ao fato de que é nas últimas semanas de gestação que o seu sistema respiratório se desenvolve por completo. “Bebês extraídos uma ou duas semanas antes da 40ª semana, por meio de uma cesariana sem trabalho de parto, são os maiores candidatos a ter problemas respiratórios”, afirma Ruth Osava, professora doutora do curso de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). “Em muitos casos, isso vai obrigá-lo a ficar no berçário recebendo oxigênio, por horas ou dias, longe da mãe”.
O Dr. Renato Kalil, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetricia (FEBRASGO), acrescenta: "O trabalho de parto é importante independente do tipo de parto que será realizado". Segundo ele, o problema da cesárea eletiva está justamente no fato de que, muitas vezes, ela é marcada antes que a gestante entre nesse processo naturalmente. "12% dos bebês nascidos por cesariana sem trabalho de parto vão parar na UTI. Esse número cai para 3% nos nascimentos por parto normal" explica ele.


2. A primeira mamada

“Durante o trabalho de parto e as contrações, há a liberação do hormônio ocitocina, que tem a função de contrair as células musculares uterinas”, explica a Dra. Rita. “A ocitocina estimula a descida do leite e facilita sua saída, contraindo as células em volta das glândulas mamárias”. Ou seja, o parto normal facilita a primeira mamada, que, caso o hospital permita, já pode acontecer logo após o nascimento. Isso é benéfico pois pode facilitar todo o processo de aleitamento, já que o recém-nascido possui grande poder de sucção na primeira meia hora de vida. Segundo a doutora, “o aleitamento materno traz muitos benefícios a ambos, desde a transferência de anticorpos para a proteção do bebê até o carinho e segurança do contato entre os dois”.

3. O bebê respira melhor

“Na vida dentro do útero, os pulmões do bebê quase não funcionam e as trocas gasosas são feitas pela placenta. Os pequenos sacos que compõem o pulmão do bebe, chamados alvéolos, estão preenchidos por líquido e, quando ele nasce, este líquido precisa sair para o ar entrar, como ocorre quando apertamos uma garrafa pet” explica a Dra. Ruth. “Este ‘aperto’ da caixa torácica do bebê é realizado pela passagem do feto no canal de parto. Em um parto normal, cerca de um terço do líquido pulmonar é removido pelo ‘aperto’ e eliminado pelo nariz e boca. Nas cesarianas, o bebê não recebe o benefício da compressão torácica e apresenta algum grau de dificuldade para estabelecer os primeiros movimentos respiratórios”.

4. Pele aquecida

Em condições normais, o parto normal permite que a mãe segure seu bebê logo, sem precisar esperar que ele ou ela se recuperem de uma cirurgia. Segundo a Dra. Ruth, isso é importante para ajudar na manutenção da temperatura corporal. “Mesmo os recém-nascidos vigorosos, quando expostos a salas de parto frias, podem apresentar quedas acentuadas da temperatura corporal e desenvolver problemas metabólicos durante as duas primeiras horas de vida” ela explica. “O melhor berço aquecido do bebê é o colo da mãe. O contato da pele da mãe eleva a temperatura corporal interna do bebê, preserva o estoque de açúcares no sangue e acelera os ajustes metabólicos nesse início de vida”.

5. Rompimento abrupto

Deve-se lembrar que o momento do nascimento é também um momento de ruptura. “Os processos envolvidos no nascimento representam a ativação dos sistemas de sobrevivência do bebê a fim de torná-lo apto para dar conta da dramática transição de um ambiente aquático para um ambiente aéreo” explica a Dra. Ruth. “O trabalho de parto assemelha-se ao aquecimento de um atleta antes de entrar em campo”. Segundo a obstetriz, isso significa que a contração do útero sobre o corpo do bebê estimula o sistema nervoso a ativar os diversos órgãos. Quando esse processo não acontece, essa ativação pode ser deficiente.

6. Complicações futuras

Estudos recentes atrelam o parto cesárea a uma série de doenças e males que o bebê pode desenvolver ao longo de sua vida. Uma das causas possíveis é que, durante a passagem pelo canal vaginal, o bebê entra em contato com as bactérias da mãe, o que estimularia seu sistema imunológico e promoveria uma maior proteção contra alergias. "Quando você retira um bebê que não está preparado, isso pode incorrer em possíveis problemas respiratórios futuros para ele" afirma o Dr. Renato Kalil. Um estudo finlandês publicado no Journal of Allergy and Clinical Imunology demonstrou que pessoas nascidas por cesariana são três vezes mais suscetíveis a manifestar asma. "Particularmente no caso de mulheres que já apresentem um caráter hereditário de doenças respiratórias, vale a pena tentar o parto normal" orienta o médico. "Nessa situação, inclusive, é indicado que as mães amamentem por até 2 meses mais do que o normal, para que o bebê receba o máximo de proteção".

São muitos os estudos que relacionam o nascimento por parto normal a uma vida futura mais saudável, mas a Dra. Rita Sanchez alerta: esses resultados devem ser olhados com cautela. “É muito difícil separar a influência dos fatores ambientais após o nascimento e os efeitos puramente da via de parto” afirma ela.

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