Especialistas
destacam as vantagens para a saúde da criança que nasce naturalmente
Em 2012, 37,4% dos partos
realizados no Brasil pela rede pública foram cesáreas. A porcentagem pula para
82% no primeiro semestre do mesmo ano, se forem considerados apenas os
nascimentos na rede privada. Apesar de esses dados estarem muito acima da taxa
recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 10 a 15%, é
inegável a preferência das mulheres e médicos brasileiros pela cesariana
eletiva.
Existem muitos motivos
que levam a essa situação, mas é importante destacar que o parto normal apresenta
alguns benefícios expressivos em relação à cesárea, não só para a mãe, como
também para o bebê. Veja abaixo os principais.
1. Tempo certo
“O primeiro ponto é o bebê
escolher o dia em que irá nascer” diz a Dra. Rita Sanchez, coordenadora
materno-infantil do Hospital Israelita Albert Einstein. “Ou seja, está pronto,
maduro”. A importância de respeitar o tempo do bebê se deve principalmente ao
fato de que é nas últimas semanas de gestação que o seu sistema
respiratório se desenvolve por completo. “Bebês extraídos uma ou duas semanas
antes da 40ª semana, por meio de uma cesariana sem trabalho de parto, são os
maiores candidatos a ter problemas respiratórios”, afirma Ruth Osava,
professora doutora do curso de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). “Em muitos casos, isso vai
obrigá-lo a ficar no berçário recebendo oxigênio, por horas ou dias, longe da
mãe”.
O Dr. Renato
Kalil, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetricia (FEBRASGO), acrescenta: "O trabalho de parto é importante independente do tipo de parto
que será realizado". Segundo ele, o problema da cesárea eletiva está
justamente no fato de que, muitas vezes, ela é marcada antes que a gestante
entre nesse processo naturalmente. "12% dos bebês nascidos por cesariana
sem trabalho de parto vão parar na UTI. Esse número cai para 3% nos nascimentos
por parto normal" explica ele.
2. A primeira mamada
“Durante o trabalho de parto e as contrações, há a liberação do hormônio ocitocina,
que tem a função de contrair as células musculares uterinas”, explica a Dra.
Rita. “A ocitocina estimula a descida do leite e facilita sua saída, contraindo
as células em volta das glândulas mamárias”. Ou seja, o parto normal facilita a primeira mamada, que, caso o
hospital permita, já pode acontecer logo após o nascimento. Isso é benéfico
pois pode facilitar todo o processo de aleitamento, já que o recém-nascido
possui grande poder de sucção na primeira meia hora de vida. Segundo a doutora,
“o aleitamento materno traz muitos benefícios a ambos, desde a transferência de
anticorpos para a proteção do bebê até o carinho e segurança do contato entre
os dois”.
3. O bebê respira melhor
“Na vida dentro do útero, os
pulmões do bebê quase não funcionam e as trocas gasosas são feitas pela
placenta. Os pequenos sacos que compõem o pulmão do bebe, chamados alvéolos,
estão preenchidos por líquido e, quando ele nasce, este líquido precisa sair
para o ar entrar, como ocorre quando apertamos uma garrafa pet” explica a Dra.
Ruth. “Este ‘aperto’ da caixa torácica do bebê é realizado pela passagem do
feto no canal de parto. Em um parto normal, cerca de um terço do líquido
pulmonar é removido pelo ‘aperto’ e eliminado pelo nariz e boca. Nas
cesarianas, o bebê não recebe o benefício da compressão torácica e apresenta
algum grau de dificuldade para estabelecer os primeiros movimentos
respiratórios”.
4. Pele aquecida
Em condições normais, o parto normal permite que a mãe segure seu
bebê logo, sem precisar esperar que ele ou ela se recuperem de uma cirurgia. Segundo a Dra. Ruth,
isso é importante para ajudar na manutenção da temperatura corporal. “Mesmo os
recém-nascidos vigorosos, quando expostos a salas de parto frias, podem
apresentar quedas acentuadas da temperatura corporal e desenvolver problemas
metabólicos durante as duas primeiras horas de vida” ela explica. “O melhor
berço aquecido do bebê é o colo da mãe. O contato da pele da mãe eleva a
temperatura corporal interna do bebê, preserva o estoque de açúcares no sangue
e acelera os ajustes metabólicos nesse início de vida”.
5. Rompimento abrupto
Deve-se lembrar que o momento
do nascimento é também um momento de ruptura. “Os processos envolvidos no
nascimento representam a ativação dos sistemas de sobrevivência do bebê a fim
de torná-lo apto para dar conta da dramática transição de um ambiente aquático
para um ambiente aéreo” explica a Dra. Ruth. “O trabalho de parto assemelha-se
ao aquecimento de um atleta antes de entrar em campo”. Segundo a obstetriz,
isso significa que a contração do útero sobre o corpo do bebê estimula o
sistema nervoso a ativar os diversos órgãos. Quando esse processo não acontece,
essa ativação pode ser deficiente.
6. Complicações futuras
Estudos recentes atrelam o
parto cesárea a uma série de doenças e males que o bebê pode desenvolver ao
longo de sua vida. Uma das causas possíveis é que, durante a passagem pelo
canal vaginal, o bebê entra em contato com as bactérias da mãe, o que
estimularia seu sistema imunológico e promoveria uma maior proteção contra alergias. "Quando você retira um bebê que não está
preparado, isso pode incorrer em possíveis problemas respiratórios futuros para
ele" afirma o Dr. Renato Kalil. Um estudo finlandês publicado no Journal
of Allergy and Clinical Imunology demonstrou que pessoas nascidas por
cesariana são três vezes mais suscetíveis a manifestar asma.
"Particularmente no caso de mulheres que já apresentem um caráter
hereditário de doenças respiratórias, vale a pena tentar o parto normal"
orienta o médico. "Nessa situação, inclusive, é indicado que as mães
amamentem por até 2 meses mais do que o normal, para que o bebê receba o máximo
de proteção".
São muitos os estudos que
relacionam o nascimento por parto normal a uma vida futura mais saudável, mas a
Dra. Rita Sanchez alerta: esses resultados devem ser olhados com cautela. “É
muito difícil separar a influência dos fatores ambientais após o nascimento e
os efeitos puramente da via de parto” afirma ela.
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